No séc. XVII ainda aí se conservavam as sua relíquias, de grande veneração entre os fieis, que acreditavam que S. João os salvaria das febres.
Diz a tradição , que a cabeça de S. João do Porto, foi trazida pela Rainha Mafalda no séc. XII, para a Igreja de São Salvador da Gandra e que parte dessa relíquia teria sido levada para a capela da "Santa Cabeça", na Igreja de N ª Sra. Da Consolação, na Cidade do Porto.
O facto da sua festa se ter celebrado a 24 de Junho talvez explique o facto de ter o seu culto sido absorvido pelo de S. João Baptista, cujo nascimento ocorreu no mesmo dia 24 de Junho e a que o povo dedicou através dos tempos forte devoção e grandes festas, mantendo-se ainda hoje muito viva a tradição das fogueiras de S. João de origem muito antiga, ao mesmo tempo que substituíam as festas pagãs do solstício.
Festas de forte caris popular, o S. João do Porto é uma festa que nasce espontaneamente, nada se encontra combinado, embora a festa se vá preparando discretamente durante o dia, é normalmente depois do jantar, constituído por sardinhas assadas, batatas cozidas e pimentos ou entrecosto e fêveras de porco na brasa, acompanhadas de óptimas saladas , jantar obviamente regado com vinho verde ou cerveja, mais modernamente. Findo o jantar, os grupos de amigos começam a encontrar-se, organizando rusgas de S. João, como são chamadas. As pessoas muniam-se de alhos pôrros e molhos de cidreira, actualmente as armas, são outras, mudaram para martelos de plástico, duros e ruidosos, mas que acabaram por ser bem aceites e hoje já fazem parte da tradição." António Amen
Em Minde, o S. João também já foi motivo de grandes festejos.
Da edição do jornal O PORTOMOZENSE, publicada em 14 de Maio de 1902, transcrevo o artigo abaixo, escrito por A. de Jesus e Silva com o título "Tirar as Lampas ao Olho"
Festas e tradições de Minde
TIRAR AS LAMPAS AO OLHO
TIRAR AS LAMPAS AO OLHO
« O dr. João Hygino Teixeira Guedes, professor do lyceu e advogado nos, auditórios de Lisboa (este cavalheiro, natural de Minde, também passeou por dentro do Olho) dizia:
Duas noites se podem passar em Minde. A da serração da velha pela conversação travada entre os serradores e as velhas, e a de S. João pelas mimosas xacaras que, em volta das grandes fogueiras, a mocidade canta festejando o glorioso Santo.
Segundo a tradição, em tempos que já lá vão longe, a mocidade, depois das fogueiras, ao toque de guitarras e ferrinhos, e outros instrumentos da epocha, ia em passeio ao Olho da Mira tirar as lampas, isto é, ia pela primeira vez ao grande canal subterrâneo depois da invernia.
A gente de então, crendo no maravilhoso, por duas razões se dirigia ao Olho em a noite de S. João. Por trazer garrafas de agua com a virtude do Santo e que guardavam como relíquias e para ouvir os descantes das moiras encantadas nas alterosas abobadas do soberbo canal, festejando a noite de seus mais deliciosos sonhos.
No Terreirinho, espécie de grande salão, cujas obobadas lá se elevam, a mocidade, escolhidos seus pares, cantava e bailava desafiando as filhas de Agar. Estes costumes, estas crenças mais ou menos arreigados ainda se uzavam no meiado do seculo passado.
Estes costumes acabaram. Hoje vão tirar as lampas ao Olho os gulosos (também já fiz parte d'esse numero) com vista nas eirozes que, ao recolherem-se as aguas, ficam no grande poço ao subir do Viracú: e a mocidade depois das fogueiras vae á campina colher macella, oregãos, fel da terra e salva para a cura de seus achaques durante o inverno.
Ahi fica um pequeno e mal escripto artigo, que, se apparecesse em Bruxellas, Pariz e outras terras, onde os sábios se dedicam ao estudo da Ethnographia, era apreciado, mas aqui vae buscar a censura de Santo Hylario. Não admira, porque os santos são ordinariamente de madeira rija ou pedra dura; por isso não se pode abrir o craneo do auctor das Pimentinhas para lá se lhe metter o Folk-lore, palavra até desconhecida por aquelles que cantam, como Santo Hylario, em o Impireo.
Tenho trabalhado d'alma e coração em lendas, costumes, trovas, jogos, advinhas, etc. etc. dos povos que habitaram os meus sítios sem que até hoje houvesse quem de meus insípidos escriptos fizesse espirito, cahindo agora um no desagrado de Santo Hylario!...
Nem toda a côrte celeste com o tal Santo na frente me retirarão do caminho que trilho. »
A. de Jesus e Silra
Duas noites se podem passar em Minde. A da serração da velha pela conversação travada entre os serradores e as velhas, e a de S. João pelas mimosas xacaras que, em volta das grandes fogueiras, a mocidade canta festejando o glorioso Santo.
Segundo a tradição, em tempos que já lá vão longe, a mocidade, depois das fogueiras, ao toque de guitarras e ferrinhos, e outros instrumentos da epocha, ia em passeio ao Olho da Mira tirar as lampas, isto é, ia pela primeira vez ao grande canal subterrâneo depois da invernia.
A gente de então, crendo no maravilhoso, por duas razões se dirigia ao Olho em a noite de S. João. Por trazer garrafas de agua com a virtude do Santo e que guardavam como relíquias e para ouvir os descantes das moiras encantadas nas alterosas abobadas do soberbo canal, festejando a noite de seus mais deliciosos sonhos.
No Terreirinho, espécie de grande salão, cujas obobadas lá se elevam, a mocidade, escolhidos seus pares, cantava e bailava desafiando as filhas de Agar. Estes costumes, estas crenças mais ou menos arreigados ainda se uzavam no meiado do seculo passado.
Estes costumes acabaram. Hoje vão tirar as lampas ao Olho os gulosos (também já fiz parte d'esse numero) com vista nas eirozes que, ao recolherem-se as aguas, ficam no grande poço ao subir do Viracú: e a mocidade depois das fogueiras vae á campina colher macella, oregãos, fel da terra e salva para a cura de seus achaques durante o inverno.
Ahi fica um pequeno e mal escripto artigo, que, se apparecesse em Bruxellas, Pariz e outras terras, onde os sábios se dedicam ao estudo da Ethnographia, era apreciado, mas aqui vae buscar a censura de Santo Hylario. Não admira, porque os santos são ordinariamente de madeira rija ou pedra dura; por isso não se pode abrir o craneo do auctor das Pimentinhas para lá se lhe metter o Folk-lore, palavra até desconhecida por aquelles que cantam, como Santo Hylario, em o Impireo.
Tenho trabalhado d'alma e coração em lendas, costumes, trovas, jogos, advinhas, etc. etc. dos povos que habitaram os meus sítios sem que até hoje houvesse quem de meus insípidos escriptos fizesse espirito, cahindo agora um no desagrado de Santo Hylario!...
Nem toda a côrte celeste com o tal Santo na frente me retirarão do caminho que trilho. »
A. de Jesus e Silra
2 comentários:
Excelente artigo.
Sim, excelente artigo. E a fé com que a malta vai para a rua comer sardinhas e andar à pancada com alhos-porros!
Aquela malta toda a pensar no santo João. É só crença em Deus!
E também no Deus Baco - o Deus das bjecas e do tintol.
Enviar um comentário