02 janeiro, 2008

Zégregas do covano da terruja dos galizios da beterraba



Retomo neste número e sob este título a minha colaboração com o Jornal de Minde, interrompida há uns anos atrás. O motivo que me levou a escrever é o mesmo que justificou alguns dos artigos anteriormente publicados no Jornal de Minde: o Museu Roque Gameiro.



Já vai longe o mês de Junho de 2001 em que, juntamente com mais conterrâneos, defendi a aquisição da Casa Açores como o local ideal para a exposição condigna da obra de Roque Gameiro. Primeiro por ter pertencido a alguém ligado a Alfredo Roque Gameiro. Em segundo lugar por ter sido projectado pelo mesmo arquitecto da casa de habitação na Amadora do pintor (embora ainda não tenha encontrado nada que o prove, apesar dos meus esforços em contrário e documentação que reuni ao longo destes anos (1), que seja do arquitecto Raul Lino. Finalmente, por ser a única casa que em Minde tem um valor patrimonial histórico.
Mais tarde, em Outubro de 2003, alertei para a hipótese da Casa Açores poder ser utilizada para outro fim que não o Museu Roque Gameiro, exortando o CAORG a não deixar que esse espaço fosse desvirtuado para outros fins.
É com esta coerência que me congratulo pelo início das obras na Casa Açores sob um projecto que visa criar o tão almejado Museu Roque Gameiro que todos os livros de inventário artístico situam incorrectamente em Minde.

Outros houveram que pediam mais, quiçá um novo projecto de raiz riscado por algum arquitecto de renome. Outros ainda achavam que a Casa Açores poderia ser ampliada, que se poderiam edificar anexos no seu jardim. Penso ter ser prematura essa discussão. Ainda hoje visitei duas casas construídas sob plano do arquitecto Raul Lino (uma delas igualmente com jardim) pertencentes ao município de Cascais e nas duas o seu espaço original foi preservado.

Mas também tenho o exemplo à porta de minha casa, o Museu de Aveiro, que está a ser totalmente reformulado e onde ao lado do convento de Santa Joana do séc. XV construíram um edifício moderno para exposições temporárias. Porque são estas exposições que dinamizam e potenciam o interesse em visitar um museu – já fui várias vezes ao Museu Nacional de Arqueologia, nos Jerónimos, motivado pelas diferentes exposições temporárias que regularmente são nele expostas.
O espólio original de um museu vê-se uma vez mas são as exposições temporárias que levam a uma segunda visita. E não me parece que na Casa Açores haja muito espaço para exposições temporárias, sem afectar o espaço ocupado permanentemente. Prefiro pensar assim: numa segunda fase, haja esperança…



O que interessa assinalar é que a Casa Açores está a ser recuperada e destinada ao fim para que foi adquirida. O espólio doado a MINDE pela família do pintor Alfredo Roque Gameiro terá, por fim, todos os requisitos para ser exposto condignamente. Ou será que já ninguém se lembra da falta de condições da sua anterior localização que levaram ao fecho do anterior Museu em 1983?

Pressupondo que em fins de 2008 a casa estará acabada, tal como está definido no projecto de obra, interessa começar a pensar nas melhores formas de promover o Museu Roque Gameiro, para que também não se repita a situação anterior em que havia dias e dias em que o museu não tinha um único visitante. Para já, será um erro colocar logo de início as expectativas por baixo e pensar em aproveitar funcionários que estejam a dar apoio administrativo ao CAORG para «abrir o museu» quando este tiver algum visitante. O museu deve ter um horário de funcionamento, como qualquer museu que se preze, e ter alguém em permanência no local habilitado para dar as explicações necessárias. A Casa de Santa Maria, em Cascais, fica ao lado de outro espaço museológico, o Farol de Santa Marta, e ambas encontrei abertas e com um funcionário diferente.

Outra vertente que já referi no artigo de 2003 e que me é muito cara será a divulgação do museu através da Internet. Cada vez mais, um turista, um agente de viagens, planeia o itinerário das suas visitas apoiando-se na informação divulgada pela Internet. O Museu «virtual» Roque Gameiro poderia já ser uma realidade (arriscaria dizer «deveria») e as entidades responsáveis não devem negligenciar a criação e o desenvolvimento de um «site» onde qualquer pessoa possa tomar conhecimento do que pode encontrar no seu interior, dos horários, dos preços dos bilhetes, das exposições temporárias existentes, etc, Existem em Minde pessoas com capacidade técnica para ajudar na implementação desse site, saiba o CAORG chamá-las ao projecto e não esperar eternamente pelos meios que possam ser disponibilizados pela Câmara.

Por fim, quero mais uma vez dizer que não gosto da designação proposta: «Museu da Aguarela Roque Gameiro». Já ouvi a sua razão de ser mas penso que aqui deve presidir uma questão de princípio e, simultaneamente, de homenagem. O Museu Roque Gameiro abriu na década de setenta por vontade e esforço conjugado de conterrâneos que pertenceram a uma geração anterior, a dos nossos pais, muitos deles já falecidos ou em idade terminal. Por uma questão de respeito para com todas essas pessoas, penso que não temos que «inventar a roda» mas sim preservar o mesmo nome com que originalmente o museu foi criado. O espólio é basicamente o mesmo, a razão de ser da sua reabertura é a mesma, porque não manter o mesmo nome, dando-lhes um sinal de continuidade?

Monte Estoril, aos 28 de Dezembro de 2007

(1) na pesquisa efectuada na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian onde estão arquivados 672 projectos de arquitectura de Raul Lino não encontrei qualquer referência a Minde. Mas também não visualizei o projecto da casa de Roque Gameiro na Amadora nem tão pouco o da Casa Afonso Lopes Vieira em São Pedro de Moel.


Casa Roque Gameiro na Amadora

NOTA: Como recebi hoje o Jornal de Minde (em Aveiro), publico este artigo para os não assinantes do Jornal de Minde, com o pressuposto de os assinantes já o terem lido, em primeira mão, no jornal.

4 comentários:

PM disse...

Se olharmos bem para ambas as casas, não ficam muitas dúvidas de que devem ter sido projectadas pelo mesmo arquitecto.
O pormenor, localização e sistema construtivo da chaminé é bastante ilucidativo.
Até considero a Casa Açores mais "rica" e bonita que a casa da Amadora.

Anónimo disse...

quem projectou a casa açores foi apenas alfredo roque gameiro - existe correspondencia sobre isso entre justino guedes e o pintor - que está nas maos de um neto. Quanto ao texto do henrique lobo no ultimo jornal de minde pergunta-se: tamanho frete ainda agrava mais o artigo que saiu no mes passado em que a redacçao punha o lugar à disposiçao da comissão fabriqueira - se não , para que serviu aquela ameça de demissão?

PM disse...

Caro Anónimo:

Talvez tenha sido Roque Gameiro a esboçar a Casa Açores, mas as influências são indiscutivelmente do seu amigo e arquitecto Raul Lino.
Desconheço os dotes e obra de RG como projectista ou desenho técnico.

Quanto ao badalado assunto do JM, não li em lado nenhum que a redacção do JM tenha ameaçado demitir-se.

Anónimo disse...

É uma pena que alguém venha aqui dizer que o projecto da Casa Açores é de Roque Gameiro mas não se identifica nem identifica a pessoa em causa. Netos há muitos.