Recordam-se de um artigo difundido há cerca de 2 meses pela Lusa e que não foi muito abonatório com a Piação do Ninhou?
Nós, mindericos, comemos e calamos, mas a Drª. Vera Ferreira, mesmo lá longe, em Munique, ficou indignada, foi à luta, e hoje o jornal O PÚBLICO, na sua edição impressa, dedicou-nos uma página e publicou os artigos abaixo.
Minderico renasce com apoio da Volkswagen a línguas ameaçadas
Vera Ferreira, linguista portuguesa a viver em Munique, é a responsável pela recuperação do sociolecto que está a gerar grande interesse em Minde
O minderico, um sociolecto falado com alguma frequência até à década de 70 na vila de Minde, concelho de Alcanena, era considerado um calão em vias de desaparecimento. Mas quem passa hoje por Minde e pergunta como vai a "piação do Ninhou" pode já ver um brilho nos olhos de muitos mindenses. O minderico parece ressuscitar e a criar entusiasmo, sobretudo na primeira metade do século XX, quando o seu domínio era exclusivo dos fabricantes e comerciantes das mantas de Minde, vendidas nas feiras, que desse modo podiam falar dos negócios entre si sem correr o risco de que outros os percebessem.
O mais curioso é que o ressurgimento da velha "piação" da vila ribatejana surgiu na Alemanha, fruto de um pós-doutoramento de Vera Ferreira, linguista portuguesa que nunca viveu em Minde, do apoio financeiro da Fundação Volkswagen (pertencente ao grupo Volkswagen) e integrado no Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas em todo o mundo.
O entusiasmo em relação à fala do minderico é já sentido com aulas todas as semanas, frequentadas por cerca de cem habitantes, muitas conversas na rua sobre o renascer da "piação" e propostas para a instalação de placas toponímicas e para o trânsito bilingues, a publicação de livros em minderico, a utilização do sociolecto em eventos locais e ementas nos restaurantes e cafés locais.
O desenvolvimento de reportagens na fala local para a TV-Minde, que transmite online, a sensibilização dos jovens em idade escolar para o minderico, através do desenvolvimento da língua em actividades extracurriculares e a criação de material didáctico, incluindo software e um dicionário multimédia, são outras iniciativas.Um dos objectivos essenciais é o reconhecimento político do minderico como língua oficial, à imagem do que já sucede com o mirandês na região de Miranda do Douro.
Para conseguir o apoio da Fundação Volkswagen, Vera Ferreira teve de desenvolver e apresentar um projecto defendendo a necessidade de preservar a "piação do Ninhou" e a forma como essa perda é também uma perda da riqueza linguística tanto do país como da humanidade.
"Importa salientar que este foi, até ao momento, o único projecto que a fundação financiou na Europa - apresentou-o no relatório anual de 2008 como uma excepção -, o que para mim dá a este projecto um valor ainda mais especial", sublinha a especialista em linguística geral e tipológica, área que considera ser desconhecida em Portugal.
Piação e português
Em Minderico
Os covanos que são António Forno de gandir uns da marinha de maltezão têm agora que ambrosiar duas vezes antes de colar das do Casal Farto para as d'el rei com os seus andarilhos. É que as mandatárias são agora muito aleluias quando o Paialvo é demais no da morcela.
Em português
Os que gostam de beber uns copos de vinho têm agora que pensar duas vezes antes de deixar a mesa para ir para a estrada a conduzir automóveis. É que as leis são rigorosas quanto a excesso de álcool no sangue.
Uma língua ou um simples calão profissional
Tudo tem sido chamado do ponto de vista linguístico ao minderico. É frequente falar da "piação do Ninhou" como um calão ou gíria local. Ou então, menos depreciativamente, um dialecto, linguajar, código, um sociolecto ou linguagem secreta que evoluiu para linguagem minoritária. Vários linguistas consideram que o minderico, entre as várias gradações das formas como as pessoas comunicam, não pode ser uma língua na plenitude do termo. Quando muito, um falar em código, que se percebe intuitivamente entre determinado grupo social ou económico e é "esdrúxulo" para quem a ele não pertença. Algo como o calão dos contrabandistas de Albergaria-a-Velha ou o falar dos pedreiros de Guimarães.
Não é esse o entendimento de Vera Ferreira, que apesar de reconhecer que a "discussão à volta deste tipo de classificações não é consensual, e que para se classificar uma variante linguística como língua não existem factores ou critérios pré-definidos, cem por cento infalíveis e usados em qualquer situação", há, porém, "tendências de acordo com base no conhecimento que se tem das línguas do mundo". E diz que há vários factores que "aproximam o minderico do conceito de língua".
E há também razões para a "piação" se tornar reconhecida oficialmente como língua: "O facto de o minderico se ter desenvolvido no meio de comunicação por excelência da comunidade com diferentes tipos de registo - não se limitando apenas a um grupo específico", refere Vera Ferreira.
A linguista sublinha ainda como aspectos significativos a identificação afectiva e sócio-cultural dos habitantes pela sua forma curiosa de conversar (alguns mindenses mais idosos ainda o fazem), a "transmissão geracional verificada pelo menos até aos anos 70 do século passado" e ainda "a não inteligibilidade entre falantes de minderico e de português, já que é mais fácil para um falante de português entender o espanhol do que o minderico".
"Em tempos idos, os comerciantes de Minde iam para as feiras de todo o país e também para algumas praias, vender as suas mantas feitas à mão e em teares. Agora há só um tear em funções e não é em Minde, mas na vizinha Mira de Aire", recorda António Augusto Fresco, presidente da Junta de Minde. O autarca sublinha que até há pouco tempo "só os antigos ainda falavam um pouco do minderico", mas agora também os jovens estão interessados em aprender.
Manuel Fernandes Vicente no "O PÚBLICO"
O mais curioso é que o ressurgimento da velha "piação" da vila ribatejana surgiu na Alemanha, fruto de um pós-doutoramento de Vera Ferreira, linguista portuguesa que nunca viveu em Minde, do apoio financeiro da Fundação Volkswagen (pertencente ao grupo Volkswagen) e integrado no Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas em todo o mundo.
O entusiasmo em relação à fala do minderico é já sentido com aulas todas as semanas, frequentadas por cerca de cem habitantes, muitas conversas na rua sobre o renascer da "piação" e propostas para a instalação de placas toponímicas e para o trânsito bilingues, a publicação de livros em minderico, a utilização do sociolecto em eventos locais e ementas nos restaurantes e cafés locais.
O desenvolvimento de reportagens na fala local para a TV-Minde, que transmite online, a sensibilização dos jovens em idade escolar para o minderico, através do desenvolvimento da língua em actividades extracurriculares e a criação de material didáctico, incluindo software e um dicionário multimédia, são outras iniciativas.Um dos objectivos essenciais é o reconhecimento político do minderico como língua oficial, à imagem do que já sucede com o mirandês na região de Miranda do Douro.
Para conseguir o apoio da Fundação Volkswagen, Vera Ferreira teve de desenvolver e apresentar um projecto defendendo a necessidade de preservar a "piação do Ninhou" e a forma como essa perda é também uma perda da riqueza linguística tanto do país como da humanidade.
"Importa salientar que este foi, até ao momento, o único projecto que a fundação financiou na Europa - apresentou-o no relatório anual de 2008 como uma excepção -, o que para mim dá a este projecto um valor ainda mais especial", sublinha a especialista em linguística geral e tipológica, área que considera ser desconhecida em Portugal.
Piação e português
Em Minderico
Os covanos que são António Forno de gandir uns da marinha de maltezão têm agora que ambrosiar duas vezes antes de colar das do Casal Farto para as d'el rei com os seus andarilhos. É que as mandatárias são agora muito aleluias quando o Paialvo é demais no da morcela.
Em português
Os que gostam de beber uns copos de vinho têm agora que pensar duas vezes antes de deixar a mesa para ir para a estrada a conduzir automóveis. É que as leis são rigorosas quanto a excesso de álcool no sangue.
Uma língua ou um simples calão profissional
Tudo tem sido chamado do ponto de vista linguístico ao minderico. É frequente falar da "piação do Ninhou" como um calão ou gíria local. Ou então, menos depreciativamente, um dialecto, linguajar, código, um sociolecto ou linguagem secreta que evoluiu para linguagem minoritária. Vários linguistas consideram que o minderico, entre as várias gradações das formas como as pessoas comunicam, não pode ser uma língua na plenitude do termo. Quando muito, um falar em código, que se percebe intuitivamente entre determinado grupo social ou económico e é "esdrúxulo" para quem a ele não pertença. Algo como o calão dos contrabandistas de Albergaria-a-Velha ou o falar dos pedreiros de Guimarães.
Não é esse o entendimento de Vera Ferreira, que apesar de reconhecer que a "discussão à volta deste tipo de classificações não é consensual, e que para se classificar uma variante linguística como língua não existem factores ou critérios pré-definidos, cem por cento infalíveis e usados em qualquer situação", há, porém, "tendências de acordo com base no conhecimento que se tem das línguas do mundo". E diz que há vários factores que "aproximam o minderico do conceito de língua".
E há também razões para a "piação" se tornar reconhecida oficialmente como língua: "O facto de o minderico se ter desenvolvido no meio de comunicação por excelência da comunidade com diferentes tipos de registo - não se limitando apenas a um grupo específico", refere Vera Ferreira.
A linguista sublinha ainda como aspectos significativos a identificação afectiva e sócio-cultural dos habitantes pela sua forma curiosa de conversar (alguns mindenses mais idosos ainda o fazem), a "transmissão geracional verificada pelo menos até aos anos 70 do século passado" e ainda "a não inteligibilidade entre falantes de minderico e de português, já que é mais fácil para um falante de português entender o espanhol do que o minderico".
"Em tempos idos, os comerciantes de Minde iam para as feiras de todo o país e também para algumas praias, vender as suas mantas feitas à mão e em teares. Agora há só um tear em funções e não é em Minde, mas na vizinha Mira de Aire", recorda António Augusto Fresco, presidente da Junta de Minde. O autarca sublinha que até há pouco tempo "só os antigos ainda falavam um pouco do minderico", mas agora também os jovens estão interessados em aprender.
Manuel Fernandes Vicente no "O PÚBLICO"
1 comentário:
Mira de aire ja nos quer passar a frente veja este artigo que aprexeu no jornal de leiria.
temos de fazer alguma coisa pois o minderico e noss.
http://www.jornaldeleiria.pt/portal/index.php?id=3669
JDCFga
Enviar um comentário