05 novembro, 2007

Que maravilha! Parabéns! Nota alta!


TEXTO DE ROGÉRIO VENÂNCIO

A nossa rapaziada do “Minde Jazz”, que já nos tinha dado boas provas de algum engenho e arte, voltou à rua com uma saudável “Festa saloia”.
E com requintes de modernidade e bom gosto, para além de nos dar um belo perfume e paladar da boa carne no espeto rotativo, soube ainda oferecer-nos o cheiro agradável e salutar das ramadas que foram arrancar à mata, e com elas, numa visão genial, enfeitaram a o nossa praça, tapando, disfarçando, escondendo aqueles horrorosos pinázios pretos que enxameiam certas zonas, afrontando num negro de breu alguns dos bons, mas poucos, espaços da nossa pequena Baixa – pomposamente chamada “zona histórica”:
Sim senhor! Boa malha!
Infelizmente nin­guém até agora tinha tido um desenrascanço de tanta genialidade que, parcialmente e por algum tempo, escondesse tão medonhos enfeites!
Transformá-los numa espécie de jarras de flores, amarrando-lhes umas hastes altas de um verde alegre e viçoso, é digno de louvor. A rapaziada do Jazz já sabe que pode contar com o meu voto e a minha proposta para uma espécie de Prémio Nobel da arte e bom gosto! Isto não só pelo valor estético, como ainda por terem encontrado alguma utilidade e validade numa coisa que não tem utilidade, que só perturba, que só aborrece que só desfeia e entristece, com uma barra escura e negra, o nosso acanhado espaço, na Baixa de passeio pedonal, uma zona que é de estimação!!!


E tantos paulitos, para quê?
Porque nem decorativos são, sem arte pura ou artesanal, que, ainda por cima, e para tristeza nossa, não são produto nacional, mas sim “coisas de importação”! E a boa da nossa gente lá os vai suportando, e não se importa! Fatalismo! Desgraça nossa! Feios, inestéticos, medonhos, e, ainda por cima, estrangeiros. Eles - os tristes pauzinhos - só servem para perturbar:
- O trânsito, que ali vai, no corredor descendente, metido e entalado num carreirinho, sempre à espera e no receio de que haja um ou alguém que, por fatalidade ou pouca sorte, ponha o pé de fora e logo levará uma panada.
- Os transeuntes, que passaram a ter os passeios mais estreitos, que, se calha aos poucos que agora ainda andam pelas nossas ruas se cruzarem, têm que se olhar com pausa, e medir-se um ao outro, como adversários, para passarem de esguelha - um para cá e outro para lá. Ou aqueles outros ainda, que, de muletas ou andarilhos, experimentam dificuldades sérias para encontrarem um ponto de apoio disponível e desembaraçado, aqueles outros também que, pela idade e trôpegos, vindos dos achaques da vida, têm que andar apoiados e de braço dado na filha, no amigo ou num familiar, e lá vão aos encontrões, ombro contra ombro, passo a passo. É confrangedor!
E tudo isto porque quem manda, ou a quem nós concedemos o privilégio de nos governar, pensa e age na convicção de que mostrar autoridade e sabedoria é proibir, complicar, dificultar, e vá então de inventar proibições, confusões e complicações e ficam felizes porque mandam!...
Na hora e na época em que se grita uma regra que deve prevalecer nas linhas da nossa vida – “Direitos, liberdades e garantias” – mais se ouve cantar, às vezes aos gritos, outras vezes com voz roufenha – a “Liberdade” – enquanto, por outro lado, a cada momento, se vêem e se sentem mais coarctados os “Direitos” - com uma avalanche de leis, regras e regulamentos locais, nacionais, e comunitários, sempre na ânsia de contrariar, de diminuir, de estancar, de proibir – e as “Garantias” a fraquejarem por todos os lados, perante o medo crescente dos assaltos, dos roubos, dos crimes, das violações e dos abusos da corrupção!
E a “liberdade” - é-nos dada? Para nós, homens comuns, respeitadores, cumpridores, correctos contribuintes – a liberdade chega-nos com a máscara de mais obrigações, sustos e avisos preocupantes, medos e ansiedades.
Para alguns outros, “que não são os comuns” esses sim, ganham agora em direitos e garantias, e, mesmo sendo reconhecidos elementos perigosos e perturbadores para a sociedade, abrem-se-lhes as portas das cadeias, e vão gozar(-nos) a liberdade!
Malta do Jazz! Amigos meus! Muito lhes agradeço a vossa bela atitude, agitando e alegrando um pouco a nossa vida, ora triste na cidade. Mas que nos deu assim margem para um inesperado desabafo.
Ainda bem que alguma coisa mexe!
8/10/2007
Rogério Venâncio in Jornal de Minde




COMENTÁRIO :
Apenas repito e sublinho :
«Só espero que “num dia de felicidade”, como se canta nas letras do fado, haja alguém que, por incapacidade, por incompetência, fatalidade ou até distracção venha com um catrapilo arrancar aqueles trauliteiros negros, de mau gosto, que, olhados do norte a partir da capela de S. Sebastião, rua abaixo, enfileirados e perfilados, lembram os contornos do triste desenho de um campo de concentração! »

«E tudo isto porque quem manda, ou a quem nós concedemos o privilégio de nos governar, pensa e age na convicção de que mostrar autoridade e sabedoria é proibir, complicar, dificultar, e vá então de inventar proibições, confusões e complicações e ficam felizes porque mandam!...»

4 comentários:

Anónimo disse...

Por favor, não ataquemos a Liberdade só porque os nossos governantes não têm sabido proteger-nos contra os abusos que se fazem dela (liberdade).

Os nossos governantes e NÓS, que vemos quem abusa e muitas vezes nos calamos.

E calamo-nos, também, a maioria, contra os vários totalitarismos pequeninos que por aí singram. Querem que eu abra a boca e seja bruto, é?

De resto, concordo com o texto.

Viva a Liberdade, Viva o 25 de Abril !

PM disse...

Estes prumos, ou "palitos" (como lhes apelida o Sr. Rogério), são uma das piores vergonhas que alguém pôs em Minde.
Até parece que somos um bando de imbecis que não sabemos distinguir os passeios das estradas.

Chamar a isto modernidade (como já ouvi) só meia dúzia de cabeças parolas sem gosto e sentido de funcionalidade poderão pensar assim.

Faço um apelo aos responsáveis:
Vamos arrancar estes prumos TODOS !!!

Anónimo disse...

Não concordo ... os prumos nos passeios de Minde são uma espécie de circuito de manutenção ... experimenta andar de modo a contornar prumo sim prumo não, ora por um lado, ora pelo outro ... esquerda, direita, esquerda, direita ... e assim ad infinitum ... ganha-se equlíbrio e agilidade física ...

Até o o Sr. Fresco, extraordinário presidente da junta ganharia ... menos stress, mais ideias (estas voltinhas também servem para meditar) ... e, sobretudo mais "balls" ...

Anónimo disse...

E tb fazia bem ao pirussas..
podia era ficar com a trela entrelaçada nos prumos...