Ao dispor-me a fazer 200 Kms para ir assistir a uma apresentação do Projecto Casa das Artes promovido pela CMA na sede da JF Minde, já sabia para o que ia.
Sabia que a data, hora e local foram escolhidos para dificultar intervenções menos desejadas, previa que se tratava de um puro acto de campanha eleitoral de um partido pago pelos contribuintes, e sabia que se iria tratar somente da apresentação de um projecto, e não de uma discussão ou auscultação de ideias. Os ICAs nunca nos habituaram a esse tipo de decisões democráticas, e também não era agora que nos iam surpreender.
O próprio Eduardo Marcelino teve o cuidado de esclarecer isso mesmo, sendo perentório na afirmação de que apenas estavam ali para apresentar um projecto e não para o discutir. Não estava na mesa disponibilidade para ouvir alternativas, não interessa a opinião da população, o assunto é irreversível e o projecto e o local são pontos assentes.

Não sabia é que iria ser ultrajado pelo CONVITE À POPULAÇÃO.
O Convite era endereçado pelo Presidente da CMA, pela Direcção do CAORG e pela Direcção da SMM, mas não vi nenhum dos citados anfitriães sentados na mesa oficial da apresentação. Vi vários directores das colectividades na assembleia, mas não na mesa. Não vi o Presidente da Câmara em lado algum, mas notei a presença de quase todos os membros que integram a lista ICA, incluindo o candidato a presidente da assembleia Carlos Malaca, que no actual nada tem a ver com a CMA.
Afinal o convite era mentira. Isto não passou de um embuste.
Foi uma sessão de esclarecimento e auto-promoção promovida pelo candidato ICA e sua equipa, com o apoio quase exigido às colectividades CAORG e SMM, num ambiente de arrogância de quem está habituado a maiorias, de quem começa a ver o balão a esvaziar-se, e aposta tudo o que tem. E o que têm é este estudo prévio de um edifício de 3 milhões de euros para implantar no Largo das Eiras, e que parece agradar às 2 colectividades envolvidas.
Nós é que sabemos o que é melhor para Minde, e ninguém tem nada a ver com isso - é a mensagem ICA. Os outros, estão contra Minde...
O mais grave, é que quem paga os cheques destas descaradas auto-promoções do partido, é a CMA, uma câmara cada vez mais super-endividada. E o dinheirão que se esbanja nestes habituais carnavais e encenações, já não se gasta em mais lado nenhum.

A apresentação teve direito a uma brochura distribuída aos presentes, numa sala decorada com várias perspectivas do imóvel, e apresentação multimédia.
Eduardo Marcelino fez a apologia introdutória do projecto, que afinal não é projecto, é apenas estudo prévio, e um arquitecto do gabinete que executou este estudo prévio fez a apresentação técnica e gráfica do mesmo, respondendo a algumas questões de populares.
O candidato a presidente da CMA esclareceu que os custos desta obra já estão contemplados no orçamento da CMA, não desmentiu que este estudo prévio ainda não tem parecer técnico, e confirmou que ainda não foi votado na reunião do executivo. O candidato deu a entender que isso são situações que controlam (têm maioria), e que após uma segunda fase para elaboração do projecto, apreciação pelo Ministério da Cultura e cumprimento de outros requisitos, pretendem apresentar candidatura ao QREN.
Através de projecção de slides o Arquitecto conduziu uma apresentação das várias vertentes do projecto, com a paixão de quem já facturou 60 mil (valor do estudo) e vê perspectivas de facturar muito mais. Respondeu facilmente a algumas questões, mas falhou profundamente nas respostas sobre áreas e dimensões. Aí não tinha a lição estudada, e deixou várias suspeições no ar. Avançou ainda com uma estimativa de que os custos desta obra se situam a partir dos 3 milhões
APRESENTAÇÃO E CONCEPÇÃOCom uma apresentação gráfica excelente, o projecto até reúne alguns consensos da expressão “está bonito”. A brochura e perspectivas estão bem ilustradas e o edifício parece-me de uma concepção moderna e com alguns pormenores apelativos e interessantes, como um grande envidraçado colorido. A vista do lado do museu, é agradável, mas se tentarmos imaginar os outros alçados e vistas exteriores. não sei se manterei a mesma opinião.
Nota-se que foi concebido de acordo com um programa base exigente e defenido, e com a premissa da necessidade de construir dois edifícios individuais num espaço restrito.
As exigências em matéria de áreas são grandes, o PDM não permite construir mais de dois pisos acima do solo, pelo que a solução passou por escavar e enterrar o edifício 4 metros, incluindo o pátio, que o sr. arquitecto teimou em chamar praça.
O resultado é um conjunto de vários módulos interligados em redor de um pátio comum, para onde vão dando vários vãos envidraçados. Na prática, é um edifício de 3 pisos, sendo que um está abaixo do solo.
IMPLANTAÇÃO E LEGISLAÇÃO O maior problema deste edifício reside na sua implantação. O indíce de ocupação do solo é exageradamente elevado (quase o triplo das antigas escolas), e a volumetria é exageradamente agressiva para o local.
A edificação proposta quase que contorna os limites do terreno, e quando se fala em dois pisos acima do solo, neste caso estamos a falar de elevações verticais de paredes com 8, 9 metros, ou mais. Não nos esqueçamos que nalguns casos, de grandes salas, como da dança, os pés-direitos têm de ser elevados, e ainda teremos de somar as infraestruras a instalar na cobertura, como painéis solares, máquinas de ar condicionado, etc.
Uma altura muito acima da média das edificações existentes, com especial atenção para a
Capela de St. António que ficará completamente abafada por esta possível obra.
Na apresentação do projecto foi referido que o mesmo respeitaria toda a legislação referente ao previsto no PDM, mas temo que não seja bem assim. Duvido até que respeite, nalgumas matérias, o Regulamento Geral de Edificações Urbanas e legislações complementares para edificações desta natureza de utilização.
Já não falo no “esquecimento” de criar condições para deficientes motores acederem a um átrio de entrada, situado 4 metros abaixo do solo, mas de outras exigências. Uma edificação desta natureza obriga a uma área destinada a parqueamento automóvel, e neste caso ficamos apenas com 11 estacionamentos nas traseiras do edifício.
URBANISMO
Se deixarmos de olhar para este projecto isoladamente com a sua função e espaço, e visualizarmos a sua inserção num contexto mais amplo e urbanístico, facilmente se conclui que isto é um autêntico atentado, não só ao património histórico existente, como a qualquer correcta planificação que se possa fazer em termos de ocupação territorial.
Esbanjar uma área nobre valorizante do triângulo – Capela, Coreto, Museu -, que deve constituir uma ampliação e “respiração” do centro da vila, e construir um edificio que atrofia a zona com uma excedentária volumetria e elevado índice de utilização, não me parece nada lógico.
Quase apostaria que em 100 urbanistas, 90 devem partilhar opinião similar.
Como é que 11 lugares de estacionamento, escondidos nas traseiras deste edifício, são suficientes para toda uma área que albergará a Casa dos Açores, museu, 2 escolas de música, a capela com funerais e festas, o coreto com feiras e eventos, etc, etc.?
Isto não é projectar, é fechar os olhos. Nunca um museu, (ou qualquer coisa), pode ter hipóteses de êxito sem um estacionamento prático e funcional logo ali à frente.
PROJECTOComo muitos diziam, os desenhos estão bonitos, mas se alguma vez este estudo passar a obra tenho sérias dúvidas sobre os resultados. Tanto funcionais, como estéticos.
Certo que tem iluminação natural, mas não nos esqueçamos que mais de
40% da área útil do edifício se situa abaixo do solo, cuja iluminação e ventilação é garantida por diversos saguões, sendo o próprio pátio um grande saguão.

O facto de ser um edifício enterrado requer muita atenção nos humidades e isolamentos, e com
despesas de manutenção bem mais elevadas . Aquecimento, ar condicionado, iluminação, bombagem de esgotos, escoamento de águas e bombagens, etc.
Estes pátios e saguões, se não ficarem extremamente bem feitos, são um monte de problemas com graves probabilidades de inundações.
Duvido até, que esta designada praça seja o local agradável que mostra a perspectiva. Será um “poço” situado 4 metros abaixo do solo, onde o sol só incide ao fim de tarde, ladeado de paredes com 12 / 13 metros de altura, com dificuldades acrescidas de manutenção e limpeza.
Em matéria de
acessos e acessibilidades também está longe do ideal. Em local nenhum do edíficio pode entrar uma viatura e não tem locais fáceis para cargas ou descargas de objectos pesados ou volumosos, como por exemplo, um piano.
Tem elevadores internos, que facilita o acesso entre os três pisos, mas não deixa de ser um edifício como uma mobilidade sofrível. Também o acesso externo de deficientes à tal praça enterrada 4 metros, não foi ainda previsto, e será necessário uma grande rampa.
Na estética também não acredito na obra. Se fôr para ficar com reboco à vista (tipo museu do curtume) vais ficar um mamarracho horrível. Se levar revestimento a pedra, vai custar uma fortuna , e talvez a “coisa escape”. Mas mesmo assim não acredito. Desconfio sempre deste género de arquitectura com base em blocos quase monolíticos. Sem o acabamento adequado ficam uma pobreza franciscana.
Nos desenhos é fácil pintar um quadro, mas não nos esqueçamos que se áquele edifício acrescentarmos energia solar, aquecimentos, ventilações, etc., como foi referido, imaginem a quantidade de armações e tralha naqueles bonitos telhados todos direitinhos. Isso não está nos desenhos.
Quanto à funcionalidade, pouco haverá a dizer, pois o estudo deve ter correspondido a um programa prévio das colectividades. Basicamente, parece-me ajustado, mas a sala de ensaios da SMM colocada na cave, penso estar mal localizada. Sendo a sala de maior utilização, tem fraca iluminação natural e arejamento, e acessos dificultados com escadas.
De salientar que
o projecto não contempla nenhum auditório, nem qualquer espaço de exibição pública. Concertos, mesmo que pequenos, só serão possíveis no exterior.
OPINIÔES
Opiniões há muitas. Há quem queira olhar só para o seu umbigo e ache que isto é um assunto que deve dizer respeito exclusivamente à CMA, ao CAORG e á SMM. Mas também há muita gente que entende que a ocupação daquele espaço tem a ver com Minde como povoação, e o seu planeamento com vista ao futuro. É uma questão pura de urbanismo, há mais alternativas, talvez até melhores, e a lógica e o bom senso aconselham ponderação, antes de se cometerem erros irredutíveis, que podem ter consequências nefastas e que muito podem hipotecar decisões futuras.
É bom que alguém pare para pensar, ouvir, dialogar.
A melhor opinião que ouvi nesta apresentação foi a primeira: - Estão a querer meter o Rossio na Botesga. E é isso mesmo.
Querem enterrar à força (é esse o termo) mais de 3 milhões (600 mil contos) num buraco que vão abrir nas Eiras para implantar um edifício caríssimo que não é o ideal, querem atrofiar aquela zona nobre, e o resultado será o habitual nas obras que estes agora candidatos fizeram enquanto estiveram no poder: Nem largo, nem obra que se veja. Vejamos o exemplo do Museu do Curtume, ou memo a Zona Industrial.
Ficava a escrever mais umas horas, e tinha aqui matéria, mas, definitivamente, não posso concordar com esta obra neste local. Não tem qualquer lógica. È um acto contra-natura!!!.
PS: E o que é que conta a minha opinião? Nada. Cada qual tem a sua, esta é a a minha, e decidi publicá-la.E mesmo que tudo isto que escrevi esteja errado, também não acredito na disponibilidade e vontade da CMA em investir 3 a 4 milhões num edifício para duas colectividades em Minde, quando o Museu do Curtume “só" custou 1,7 milhões, e acabaram de gastar a "fortuna" de 250 mil no Museu da Aguarela.Se assim fosse, não haveria verbas para Minde nos próximos 20 anos.