09 abril, 2009

Minderico - Uma Língua Ameaçada em Portugal



Artigo publicado na edição de Março 09 no Jornal de Minde

Documentação do Minderico – Uma língua ameçada em Portugal é o nome oficial do projecto de três anos financiado pela Fundação Volkswagen e que trouxe no passado dia 7 de Março de 2009 uma equipa da Alemanha até Minde.
Como a maioria dos mindericos já sabe, essa equipa é constituída por mim (Vera Ferreira), Peter Bouda (também em Minde) e PD Dr. Annette Endruschat da Universidade de Regensburg, na Alemanha.

Antes de tecer algumas considerações acerca do trabalho até agora desenvolvido e da aceitação e empenho da comunidade minderica, gostaria de aproveitar esta oportunidade para mais uma vez realçar os objectivos centrais deste projecto que está inserido no Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas (DOBES) da Fundação Volkswagen.

No caso particular do minderico, os objectivos principais são por um lado a sua documentação, o que implica a gravação áudio e vídeo da piação enquanto esta é usada pelos seus falantes nas diversas actividades do dia-a-dia.
Essas gravações, que já iniciámos, serão depois transcritas e anotadas e darão origem a um dicionáro multimédia (em três línguas: minderico – português – inglês) e estarão na base de vários materiais didácticos e artigos científicos sobre a piação do Ninhou. Por outro lado e, tendo em conta a situação actual do minderico, talvez ainda mais importante que a documentação mas claramente aliada a esta será todo o processo de revitalização, para o qual já estamos a dar os primeiros passos, juntamente com a comunidade minderica.

Este processo implica por exemplo a criação de “aulas” de minderico, ou melhor de incentivo à comunicação na piação, no CAORG, que eu própria, juntamente com o senhor Carlos Amoroso, estou a dar; a reestruturação da sinalética da vila em duas línguas (minderico e português) – ideia bastante apoiada pela Junta de Freguesia, que, juntamente com a Câmara Muncipal de Alcanena, nos nos tem disponibilizado todo o apoio; e a criação de ementas e tabelas de preços também bilingues para os estabelecimentos públicos que pretendam aderir à iniciativa, como já foi o caso do “Estaminé”, “Ti Sofia”, “Bar Tony Anjos” e “Mindelicias”. Isto para citar apenas alguns exemplos.
Talvez com estas pequenas iniciativas se consiga, a longo prazo, atingir um objectivo ainda mais elevado que é o reconhecimento oficial da piação como uma língua minoritária.

Tendo em conta o trabalho que tenho vindo a desenvolver com o minderico desde 2001, quando vim desta vez para Minde tinha plena consciência de que um empreendimento desta natureza, com uma quantidade diminuta de falantes ainda fluentes e uma falta de reconhecimento e auto-valorização de uma riqueza tão única que deve ser preservada, iria ser uma tarefa ardúa.
Porém, a ajuda e empenho de todos os “charales e covanos” tem facilitado em muito este trabalho.



Depois de efectuadas as primeiras gravações com alguns falantes de minderico como por exemplo com o senhor João Gameiro (conhecido por Joãozinho), Cândido Simões, José Manuel Almeida (para as quais muito contribuiu o empenho dos proprietários do estabelecimento “Ti Sofia” e a ajuda do senhor João Gameiro) e com os senhores João Vieira da Costa, António Afonso, Bento Martinho, João Maria Penúria e Saúl Patita, e de ver o brilho nos olhos de todos quando “piavam à modeia”, pensei para mim que este brilho e alegria têm de ser recompensados e fiquei com a certeza de que o renascimento do minderico, com a ajuda de TODOS, se conseguirá sem qualquer dúvida.
Além disso, o empenho da Comissão de Festas na noite de fados para que o minderico estivesse presente, a ajuda do senhor padre Albino, as aulas de minderico cuja adesão extropolou todas as minhas expectativas, o apoio incondicional do CAORG e do Jornal de Minde corroboram e realçam esse facto.
Ao nível da realidade virtual, temos contado com todo o apoio da nova Casa do Povo de Minde, mais concretamente do grupo Media Minde que faz parte desta instituição; e, num domínio mais individual, os apoios de Pedro Micaelo e de Vítor Silva têm sido imprescindíveis para a divulgação online do projecto.

Quando explico o projecto costumo dizer que este trabalho não é apenas uma carolice minha ou o interesse de alguma instituição estrangeira, mas sim um projecto de todos os mindericos e de Minde para Minde e os seus filhos.
Obrigada por nos receberem tão bem!
Vera Ferreira no Jornal de Minde - Março 09

NOTA:
Todo o texto acima foi publicado no Jornal de Minde com uma excelente tradução na Piação dos Charales. Se conseguir um PDF logo o disponibilizarei aqui. Merece a pena ler.

4 comentários:

PM disse...

Lince, carranchana Vera.
Jordo cópio que a carranchana e o covano Peter vão grunhir paracópios pois o engenho é "bué" de cópio.

Um cruzeiro e um ancho lince (será assim?)
PM

Anónimo disse...

Tou copio com esta da piação dos charales.
Cruzeiros anchos para a Touquim Vera e para o covano da terrujem das babosas

Anónimo disse...

Não vivesse eu no Casal Grande e já estaria nas aulas da touquim Vera para penetrar a piação à modeia . Assim,vou tentando sozinha com o que apanho por aqui.Paracópios pelo engenho. Ana G.

PM disse...

Pode sempre ir piando neste parreiral. Qualquer planeta, covano que não piar não jorda nada do que se passa aqui.