20 março, 2009

A Piação do Ninhou




É assim que a Vera quer ver a placa de Minde da próxima vez qu cá vier.
A Vera Ferreira é uma estudiosa da Piação do Ninhou e está a desenvolver um projecto de 3 anos patrocinado, pela multinacional Volkswagen, que visa "despertar" e reactivar uma língua morta e, numa segunda fase, elevar o Minderico à classificação de língua minoritária.

Está em Minde por dois meses com o colega Peter para iniciar esta fase do trabalho. Precisa de contactar pessoas, quer traduzir placas, ementas, tabuletas, etc, para Minderico, e a irá dar aulas de Minderico e quem quiser. Quer que as introduções do que se escreve na net seja em Minderico, e vai já colaborar na apresentação dos Fados e do JAZZminde, que irá ter uma componente em Minderico. É este o projecto da Vera. É uma especialista em línguas e quer que Minde tire o máximo proveito cultural e turístico deste património.

No próximo domingo dará uma palestra/encontro no Cine-Teatro Rogério Venâncio, com todos os que se mostrarem interessados em colaborar neste grandioso projecto, que passa por esquecermos a expressão "calão minderico" e começarmos a chamar-lhe Piação do Ninhou ou Minderico.
O projecto é da Vera, mas a piação é nossa, e sem o n/empenho e colaboração pouco se fará. É uma oportunidade ímpar que Minde tem para salvar e elevar este património. Vamos todos empenharmo-nos nisto.

No Minderico.com poderá ler uma entrevista da Vera Ferreira que explica como tudo começou e o que pretende fazer. Ler entrevista

"Caros charales, carranchanos e covanos, cópios planetas a todos os que são antónio forno pelo Ninhou e pela sua piação. Mirantei a borboleta no jardim de Camões, na terruja a duas das da póvoa do casal médio de cima mas engenho agora na classe ancha do Touquim, na terruja das babosas do país dos marcos, e acima de tudo sou antónio forno pela piação.

O meu engenho com a piação começou no planeta ancho de 2001 e desde aí tenho jordado as gâmbias ao engenho para que a piação não escadeire e para a tirar do irmão do Quiqui. Eu penetro que já são muito teodorinhos os charales que ainda piam à modeia e penetram a piação; os terraiozinhos (os chararales do que há-de vir) já só dão ao badalo na piação do Camões, o que é muito didi para a piação. Para mim a piação além de muito cópia é como uma herança de videira não só para o Ninhou como para todo o jardim de Camões e por isso tem de ser engenhada com detalhe. É para isso que jordei o andarilho pelas d’el rei para Ninhou: para piar à modeia com os charales no quadrazal do margaceiro e do cuco."
Vera Ferreira

3 comentários:

Anónimo disse...

1 - Quem é a Drª Vera Ferreira

O meu nome é Vera Alexandra Carvalho Ferreira, sou natural de Santo Antão, freguesia e concelho da Batalha. Licenciei-me na universidade Coimbra, na Faculdade de Letras, em Línguas e Literaturas Modernas variante Estudos Ingleses e Alemães. Doutorei-me em Linguística Geral e Tipologia Linguística na Universidade de Munique, na Alemanha, onde continuo a viver desde 2000. Neste momento trabalho nas áreas da Linguística Geral e Documentacional nas Universidades de Munique e Regensburg.

2- Como tomou conhecimento da Piação do Ninhou?

O meu primeiro contacto com a piação do Ninhou devo-o ao meu pai (Bauduíno de Sousa Ferreira), no ano 2001, que recebeu de um colega na Batalha um pequeno dicionário com alguns vocábulos da piação (um livrinho amarelo), isto porque o seu colega sabia que eu me interessava por línguas. Foi esse livrinho que despertou todo o meu interesse pela piação bem como a vontade de a estudar a outros níveis.

3 - Que motivos a levaram a interessar-se pela Piação?

Tendo em conta a minha formação académica e interesses pessoais, os motivos acabam por se tornar óbvios: o interesse pela diversidade linguística por um lado e por outro o reconhecimento da importância de preservar essa riqueza que é também uma riqueza socio-cultural. Aliada a esses motivos vem a criatividade da piação e dos seus falantes que me fascinou desde o início. Há ainda um outro motivo, de carácter mais científico, que para mim foi extremamente importante: eu durante a tese de doutoramento trabalhei (e ainda trabalho) na área da linguística cognitiva e a piação oferece estruturas linguísticas perfeitas para exemplificar muitos dos pressupostos da semântica cognitiva.

4 - Quais os objectivos do seu trabalho?

O trabalho que estou agora a desenvolver em Minde resulta de um projecto de três anos (estamos ainda nos primeiros meses), do qual fazem parte mais duas pessoas (PD Dr. Annette Endruschat e Peter Bouda, M.A. que neste momento também está comigo em Minde), apoiado financeiramente pela Fundação Volkswagen. Este projecto, sediado na Universidade de Regensburg, está inserido no Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas, programa esse organizado e financiado pela Fundação Volkswagen e que tem por objectivo documentar o maior número de línguas em todo o mundo que se encontram actualmente ameaçadas ou em vias de extinção e para as quais não existem até à altura quaisquer tipos de registo. Se pensarmos por exemplo que no mundo existem cerca de 6000 línguas e que metade se encontra actualmente ameaçada ou se ponderarmos os dados revelados pela UNESCO que nos mostram que em cada duas semanas uma dessas línguas ameaçadas acaba por morrer, facilmente percebemos a importância de um programa desta natureza.

No caso particular da piação os objectivos principais são por um lado a sua documentação, o que implica a gravação audio e vídeo da piação enquanto esta é usada pelos seus falantes nas diversas actividades do dia-a-dia. Essas gravações serão depois transcritas e anotadas e darão origem a um dicionáro multimédia (em três línguas: minderico – português – inglês) e estarão na base de vários artigos científicos sobre a piação do Ninhou. Por outro lado e, tendo em conta a situação actual da piação, talvez ainda mais importante que a documentação mas claramente aliada a esta será todo o processo de revitalização, para o qual já estou a dar os primeiros passos, juntamente com a comunidade minderica. Este processo implica por exemplo a criação de “aulas” de piação, ou melhor de comunicação na piação, no CAORG, que eu própria, juntamente com o Sr. Carlos Amoroso, irei dar; a reestruturação da sinalética da vila em duas línguas (minderico e português) e a criação de ementas e tabelas de preços também bilingues para os estabelecimentos públicos que pretendam aderir à iniciativa. Isto para citar apenas alguns exemplos do que se pretende. Talvez com estas pequenas iniciativas se consiga, a longo prazo, atingir um objectivo ainda mais elevado que é o reconhecimento oficial da piação como língua minoritária.

Este último objectivo pode para muitos parecer descabido ou descontextualizado. Impõe-se por isso uma breve explicação. Se pensarmos na evolução da piação ao longo dos tempos, verificamos que de facto a piação surgiu como um sociolecto ou um calão. Contudo, o minderico ultrapassou em muito os limites e barreiras do que se designa como calão – além de que esta designação acarreta uma conotação negativa que a piação não tem nem deve ter e que, de certa forma, tem influido no seu uso cada vez menos frequente. Por isso, e se ponderarmos factores como a intelegibilidade, a transmissão geracional ou os domínios variados de utilização (que não apenas a comercialização de têxteis, como acontecia nos seus primórdios), o minderico deve, na minha opinião, ser visto actualmente como uma língua (e não um calão) que teve nas suas origens uma linguagem secreta. Esta tendência na evolução de uma língua secreta para língua minoritária isolada está perfeitamente documentada noutras regiões do mundo.

Por último, e agora de um ponto de vista mais egoísta, este trabalho servirá de base à minha futura tese de pós-doutoramento que será inteiramente dedicada à piação do Ninhou.

5 - Está a ter boa aceitação por parte dos Mindericos e das Instituições Oficias?

Sim, sem dúvida. Quer os mindericos quer as instituições oficiais têm-se mostrado extremamente cooperantes, satisfeitos por ver a sua piação a seguir novos rumos e entusiasmados com esta oportunidade de “não deixar a piação cair no gualdino”.

6 - Pretende fazer algum evento público para dar a conhecer o seu trabalho?

Não sei se lhe poderei chamar um evento público mas pretendo já neste fim-de-semana apresentar o projecto e os seus objectivos nas missas de sábado e domingo e posteriormente, com mais detalhe, no Cine-Teatro de Minde.

7 - Quer apresentar-se aos Mindericos com um breve texto na Piação do Ninhou?

Caros charales, carranchanos e covanos, cópios planetas a todos os que são antónio forno pelo Ninhou e pela sua piação. Mirantei a borboleta no jardim de Camões, na terruja a duas das da póvoa do casal médio de cima mas engenho agora na classe ancha do Touquim, na terruja das babosas do país dos marcos, e acima de tudo sou antónio forno pela piação.

O meu engenho com a piação começou no planeta ancho de 2001 e desde aí tenho jordado as gâmbias ao engenho para que a piação não escadeire e para a tirar do irmão do Quiqui. Eu penetro que já são muito teodorinhos os charales que ainda piam à modeia e penetram a piação; os terraiozinhos (os chararales do que há-de vir) já só dão ao badalo na piação do Camões, o que é muito didi para a piação. Para mim a piação além de muito cópia é como uma herança de videira não só para o Ninhou como para todo o jardim de Camões e por isso tem de ser engenhada com detalhe. É para isso que jordei o andarilho pelas d’el rei para Ninhou: para piar à modeia com os charales no quadrazal do margaceiro e do cuco.

Entrevista conduzida por Vítor Coelho da Silva - 2009.03.18

Anónimo disse...

Parabens vera:
vemos que te tens debruçado no calão minderico com muito afinco

Anónimo disse...

Parabéns ao site oficial da Piação do Ninhou. Site simples mas muito bonito. Parabéns ao Eng Vitor