07 janeiro, 2010
Linguística documentacional: o caso do minderico
No site "lusitanistenverband.de" podemos encontrar um documento escrito pela Dra. Vera Ferreira, que bem define e caracteriza "o caso do minderico".
Vera Ferreira (Regensburg / München)
«Linguística documentacional: o caso do minderico»
O minderico é uma variante linguística peculiar falada na vila de Minde. A partir do século XVI, as mantas de Minde tornaram-se conhecidas por todo o país. Com o aumento da sua popularidade e o consequente aumento da actividade têxtil, os mindericos (habitantes de Minde) começaram a frequentar feiras e mercados por todo o país. Para protegerem e defenderem o seu negócio e tirarem mais proveito das comercializações, os comerciantes de Minde começaram a usar o minderico entre si para inteligivelmente discutirem perante estranhos o preço a fazer à mercadoria.
Mais tarde esta linguagem secreta estendeu-se a todos os grupos sociais e profissionais de Minde e tornou-se o meio de comunicação na vila. O isolamento geográfico de Minde (a vila situa-se numa depressão fechada entre os Planaltos de Santo António e de São Mamede, em pleno Maciço Calcário Estremenho) foi também um factor importante para o uso e preservação desta variedade linguística única.
Depois desta fase inicial de sociolecto, e com muita criatividade por parte dos seus falantes, o minderico enriqueceu o seu vocabulário gradualmente. Este alargamento vocabular está intimamente relacionado com as experiências sócio-culturais dos habitantes de Minde. Com o aumento do vocabulário, o minderico alargou também os seus contextos de aplicação, começando a ser usado não só por razões comerciais/de secretismo mas também em contextos da vida social diária, como por exemplo dentro da família.
Contudo, o minderico está hoje sob a ameaça premente de extinção, mais do que em qualquer outro período da sua história. Com a crescente influência dos mass media e os efeitos colaterais da globalização, variantes minoritárias como o minderico, confinadas a comunidades pequenas e fechadas, sob a pressão constante de uma língua oficial, correm o risco de ser abandonadas. É neste contexto que a linguística documentacional, tal como é conhecida desde os finais dos anos 90 do século XX, vê a sua tarefa primordial documentar de forma multimédia variantes linguísticas ameaçadas, dentro dos seus contextos naturais de utilização, criando corpora multimédia para as gerações futuras, quer de falantes quer de investigadores, e incentivar desta forma e em estreita colaboração com a comunidade falante o processo de revitalização dessas mesmas variantes.
A presente comunicação pretende, por um lado, mostrar as particularidades linguísticas do minderico e a sua oposição relativamente ao português e, por outro, dar a conhecer o trabalho de documentação que está a ser levado a cabo no âmbito do Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas (DOBES), financiado pela Fundação Volkswagen.
Publicado em "lusitanistenverband / Selktin 2"
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