29 janeiro, 2008

O Louriceirense "deixou de voar"



Um dos blogs mais antigos do concelho, O Louriceirense, dirigido por Arnaldo Anacleto, e que já se mantinha no ar desde Abril de 2004, suspendeu a sua actividade.
Nas despedidas, o seu autor escreveu:
«Como tudo na vida existe um princípio, também existe um fim! Também este espaço fica moribundo. Talvez um dia surja outro "Louriceirense"!»

Em homenagem ao "O Louriceirense" transcrevo um artigo publicado pelo Sr. Arnaldo Anacleto neste blog, em Junho de 2005:

A INDÚSTRIA TÊXTIL NO CONCELHO ATÉ FINAIS DA DÉCADA DE SESSENTA...

A industria têxtil no concelho de Alcanena é muito progressiva, mas é sobretudo na freguesia de Minde que existiu um verdadeiro empório dessa actividade, sendo altamente conhecidas e apreciadas, desde os temos mais remotos, as estamanhas, lãzinhas, cintas, alforges e mantas. No entanto, desde a década de quarenta, onde teve um desenvolvimento ainda maior com o advento da fabricação de malhas exteriores, ali muito generalizada, indústria que começou a ser divulgada no nosso país por cidadãos polacos que se estabeleceram em Lisboa durante a última guerra mundial.

Foi devido às dificuldades na aquisição de lãs para trabalhos tradicionais que, em 1942, o industrial Sr. António Roque Gameiro, como outros em risco de ver prejudicada a sua vida e abalado o seu futuro, procurou para que lhe desse uma sugestão, um seu amigo de Lisboa, o sr. António Lourenço Alves, a quem expôs a situação aflitiva em que se encontrava, tanto pela falta da necessária matéria-prima – cujas vendas estavam condicionadas apenas a certos tipos de laboração em grande escala – como pela pequena dimensão da sua industria. Este, interessando-se em auxiliá-lo, lembrou-lhe, que poderia montar em Minde uma fábrica de malhas exteriores, para a qual não havia condicionalismos nem de instalação nem de produção. Aceite a ideia, dela nasceu a conhecida Sociedade Industrial de Malhas Mindense, constituída pelos srs. António Lourenço Alves, António Roque Gameiro e Virgílio Augusto do Rio, este o primeiro mestre de malhas aparecido na região e que tanto havia de contribuir para o seu desenvolvimento, pois foi quem ensinou grande número de Mindericos, alguns dos quais são hoje grandes industriais da especialidade, a trabalhar com as máquinas novas.
O sr. Alfredo António foi o primeiro maquinista de Minde que trabalhou naquela sociedade, e foi a estes homens, principalmente, que Minde ficou a dever o seu progresso industrial, pois apesar das grandes dificuldades então surgidas, pela falta de técnicos e pessoal especializado, nunca houve desânimo e todos conseguiram colher os ensinamentos necessários para o seu aperfeiçoamento profissional.
Por estas razões Minde é hoje um dos maiores centros de fabricação de malhas do país, embora a Sociedade de Malhas Mindense tenha deixado de existir, ainda aqui mais de oitenta por cento da população se dedica e esta indústria, tendo sido daqui que se espalhou para outras regiões de Portugal.

Se em 1942 apenas existiam meia dúzia de fábricas de malhas em Lisboa, na sua maioria fundadas e dirigidas por Polacos, em finais da DÉCADA DE SESSENTA, encontram-se instaladas em Minde cerca de cinquenta, equipadas com modernos maquinismos, que empregam, entre pessoal técnico, administrativo e operários, cerca de mil e quinhentas pessoas.
Em relação com este surto de progresso, realçamos que também Minde possui a única fábrica construtora de máquinas rectilíneas para a indústria de malhas, bem como três tinturarias, onde trabalham mais de duas centenas de pessoas, tendo-se por esse motivo, estabelecido na zona numerosos agentes comerciais para venda de produtos subsidiários de interesse para a indústria.

A produção de Minde é absorvida não só pelos mercados metropolitano e ultramarino, constantemente visitados pelos industriais mindericos e pelos seus colaboradores, o que dá uma ideia do interesse de em servir os seus clientes, como também por alguns mercados estrangeiros, exportando-se malhas para diversos países alguns dos quais muito distantes.
Foi graças ao esforço, empenho e dinâmica dos seus industriais e trabalhadores, que Minde, alcançou um enorme plano na actividade económica do país. É um acto de justiça enaltecer as excelentes qualidades deste povo trabalhador e persistente.
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Excerto do trabalho que estamos a realizar sobre o concelho de Alcanena, até finais da década de sessenta.
A. Anacleto in "O Louriceirense"

1 comentário:

Anónimo disse...

È pena que tenha acabado. Dava informações interessantes !