11 agosto, 2008

Justino Guedes : Um Grande Minderico

Minderico, residindo em Lisboa quase toda a vida, Justino Guedes foi um dos maiores beneméritos e impussionadores de Minde nos inícios do século passado. A ele se devem muitas obras e grandes iniciativas.
Um empresário de sucesso, um grande Homem, um visionário, e exemplo de verticalidade que bem poderia servir de "bitola" aos verdadeiros mindericos.

Em 5 de Junho de 1903, o jornal semanal "O Portomozense" fez-lhe uma justa homenagem, dedicando-lhe integramente a primeira página:




JUSTÍSSIMA HOMENAGEM
De ha muito que vem minha vontade, hoje realisada, de escrever, não a biographia, que para tanto não chegam o meu engenho e arte, mas sim tributar aqui, por meio d'estes meus singelos e desadornados traços, sincera e merecida homenagem ao vulto proheminente de Justino Guedes.
E' hoje, então que o modesto e obscuro professor official de Minde, publicando e pondo bem em relevo os altos serviços prestados, com especialidade no respeitante a instrucção, por aquelle illustre benemérito, a este referido logar de Minde, manifesta em seu nome e de todos os laboriosos mindericos, o sagrado dever de gratidão. Mas preciso será dizer, também que não é, por modo algum, a odulação e muito menos a ousadia de infundadas pretenções a biographo, que o levam apezar de :sua rude penna para fallar d'um filho, d'um amigo, de um devotado protector d'esta laboriosa povoação. A causa d'isto tudo, isto tudo mesmo, é a sincera expansão do agradecimento de humildes beneficiados ao seu bemfeitor enaltecido pela pratica de acções beneméritas, nobilitadoras.

Nasceu Justino Guedes em Minde, povoação ao temo do concelho de Porto de mas hoje do termo de Torres Novas, a 23 de fevereiro de 1862; tendo, portanto, 51 annos de edade. filho do sr. Manuel Roque Gameiro e da ex. sr.a Quiteria de Jesus Guedes, já fallecidos, e irmão dos srs. Alfredo Roque Gameiro, laureado aguarellista distincto collaboradòr artístico do «Diário de Noticias», e José Roque Gameiro Guedes, ha pouco promovido a major de infanteria em Bragança. Também é sobrinho materno dos faeclidos Dr.João Hygino Guedes muito conhecido e afamado jusrisperito de Lisboa e rev.° p.e Justino Guedes - ambos filhos do seu avô Filippe, um dos primeiros proprietários que, no seu tempo, aqui houveram. O ex.m° sr. dr. Ernesto Adolfo Teixeira Guedes, distinctissimo professor de instrucção secundaria no Lyceu Nacional de Santarém, é seu primo.
Como se vê, sua ex.a descende d'uma familia distincta.

Cedo se ausentou para longe da casa paterna, para longe de sua querida e extremosa mãe, pois que aos nove annos de edade partia para Lisboa, chamado pelo seu tio dr., cujo nome já indiquei, que o mandou educar, e em casa do qual permaneceu até 1866. Pagou sempre com a gratidão os favores recebidos d'este seu tio. Pouco tempo depois d'aquelle anno empregou-se, como caixeiro, no estabelecimento de lithographia e armazém de musica de Figueiredo, de quem sua virtuosa e dedicada esposa, D. Maria José Guedes, é filha. Veio, portanto, mais tarde, a ser genro de seu primeiro patrão; prova de que, em todos os tempos, Justino Guedes se houve sempre á altura de merecer a estima e consideração de todos. Foi n'este estabelecimento lithographico que lhe começou a raiar a aurora do seu futuro progresso prcfulgente e estimulador, porque d'alli obteve os primeiros conhecimentos da arte que tanto o tem engrandecido, notabilisado.

Em 1869 saiu d'esta casa e entrou, também como caixeiro, para um dos estabelecimentos de papelaria do sr. Veríssimo José Baptista, mas, passado algum tempo, e depois de ter feito uma transacção com seu patrão, em que lhe tomou de trespasse uma das suas lojas de papelaria na rua de S. Paulo, n3, em cujo estabelecimento collocou um seu primo, e como naturalmente toda a sua tendência fosse para a industria lithographica, foi tomar conta d'uma officina d'esta arte, que estava situada defronte do estabelecimento de papelaria acima referido, onde fora combinação com Leal, Costa & C.a, ludida officina de phia trabalhava exclusivamcnte para a importante fabrica d'estes senhores, com quem se dava a feliz coincidência de Justino Guedes, ser também mirto amigo.

Como desejasse o novel industrial desenvolver e ampliar mais a sua industria, para a qual se sentia com grande vocação, mudou o estabelecimento para a rua Jo Vasco da Gama, onde
foram assentes novas e bellas machinas, para a boa execução dos trabalhos lithographicos, que elle próprio comprar ao extrangeiro, onde também adquiriu conhecimentos indispensáveis para a mais completa perfeição e maior desenvolvimento da sua crescente officina, que depois de devidamente instal-lada, começou logo a produzir bellos trabalhos de chromo lithographia, a que Justino Guedes se dedicou do coração, arrostando no principio com algumas deíiculdades, mas sempr eimperturbavel, inpavido, ante ellas, perdendo mesmo muito capital, mas sempre animado, esprançoso, n'um futuro mais largo, próximo e impulsionador, n'um futuro que já ha muito lhe sorria.

Não estacionou, então, aqui ainda a evolução do seu immaculado progresso: Aumentando extraordinariamente o movimento de sua casa, viu-se obrigado a mudar a ofíicina para a rua da Oliveira, ao Carmo, installando-a agora n'uma casa, cuja amplitude seria proporcional á sua evolutiva actividade industrial. Effectivamente, esta officina lithographica tomou tal incremento, que era talvez a primeira do paiz.



E assim ia este grande e arrojado emprehendedor, que teve a gloria de ver que foi a sua officina a primeira que executou trabalhos em chromo-lithographia, para o que em 1879 foi contratar um francez, distincto official d'esta arte, a quem pagou liberalmente, gastando mesmo grossas quantias, tudo com o fim de pôr em pratica por uma maneira correcta, comprehendida, mais uma das suas nobilitadoras aspirações, mais um emprehendimento da sua ideia fecundissima, assim ia, digo, este illustre industrial, caminhando a passos agigantados para esse futuro mais largo, a que teria de chegar cheio de glorias.

Effeciivamente assim aconteceu: Justino Guedes, devido só ao seu próprio trabalho honradíssimo, á sua actividade, seu notiblissimo carácter, sua finíssima táctica de boa administração, tem-se elevado, engrandecido, ao ponto de hoje ser um dos primeiros e mais conceituados industriaes da capital. É um homem que não cança nunca; elle n'um dia dá mais de cem despachos, resolve mil coisas, trata com este, com aquelle, emfim, nao tem um momento de seu e ha de ter sempre o tempo bem aproveitado e divididinho, para lhe chegar para as suas innumeras occupações.

Ainda ha pouco eu mesmo, no curto espaço de tempo que estive em Lisboa, em sua amável companhia, tive occasião de observar o que já por mais de uma vez me teem aflirmado relativamente á sua constante e inconcussa labutação. E com effeito, não poderia deixar de assim ser: sua ex.ª tem hoje a seu cargo a administração da importantíssima casa de Lisboa, julgo que a primeira no genero, a «Editora», (a antiga Companhia Nacional Editora, casa por elle fundada e também, se não estou em erro pelo sr. David Corrazzi e outros, em 1891, deixando, então, n'esse mesmo anno, a da Oliveira, ao Carmo) de que é hoje proprietário mais o sr. José de Mello; é director das officinas lithographicas da «Companhia dos Tabacos de Portugal», para onde foi nomeado ha quatorze annos; c administrador da antiga fabrica Bachelay de fundição de ferro e bronze na rua da Boa Vista, hoje da viuva de J. P. Marcello, e, além d'isto tudo, tem sempre muitos outros serviços extraordinários, sendo a maior parte d'estes aquelles, que tão promptamente e com cuidado paternal, presta aos seus parentes, aos seus patrícios, aos seus amigos, nos poucos momentos que pode dispor da sua lida ordinária.
Da antiga fabrica de vidros da Amora foi também o ex.mo sr. Justino Guedes um dos sócios fundadores.
Emfim, sua Ex.ª o Sr. Guedes, é um d'estes homens que devem tudo a si, á sua actividade, ao seu trabalho e que só sabem engrandecer-se á custa do próprio merecimento.

O povo de Minde tem também a agradecer a este grande homem o calcetamento d'algumas ruas d'este logar, merecendo especial menção o da rua do Relego, e também agora ultimamente o ter conseguido a apprpvação de 2.5oo$ooo réis no respectivo orçamento do Ministério das Obras Publicas, para reparos na egreja matriz d'esta nossa freguezia; d'esse dinheiro já vieram 3008000 réis, que estão já em poder da junta de parochia, constando-me que virá mais^ brevemente.

Tratamos agora do que verdadeiramente mais dá causa a ver a luz da publicidade este modesto artigo.
Quasi todos os benefícios públicos que esta terra tem recebido, ha um par d'annos a esta data, se devem ao seu dilecto filho de que venho faltado, e a quem hoje sinto a intima satisfação de prestar devido preito.
Entre esses melhoramentos de utilidade publica a que acabo de referir-me, destaca-se, em primeiro logar, pela sua capital importância, pelo seu fim humanitário e civilisador, a risonha casa d'aula, que, com toda a certeza, se não fosse a poderosa influencia (…)

Sem comentários: