Na edição Nº 582 (30 Setembro) do Jornal de Minde podemos ler um excelente artigo publicado pelo Sr. Agostinho Nogueira.
Porque concordo totalmente com o seu conteúdo, e porque entendo que o assunto é merecedor de uma profunda reflexão, tomei a liberdade de aqui o reproduzir integralmente.
QUEM NÃO SEMEIA, NÃO COLHE...
Há muito quem queira mamar na teta,
não há é quem dê palha à vaca...
Há muito quem queira mamar na teta,
não há é quem dê palha à vaca...
«Tivemos conhecimento de que, recentemente, um alto responsável da nossa Câmara referia publicamente que a quebra na cobrança da Derrama prevista no orçamento camarário foi de tal ordem que se torna um quebra-cabeças elaborar o orçamento para o próximo ano.
As razões não parecem difíceis de encontrar.
Em 1994 entrava em vigor o PDM.
Nele se previa a construção de duas zonas industriais, uma na área de Alcanena e outra na área de Minde.
Os estudos e negociação dos terrenos começaram desde logo, tendo-se feito a aquisição de algumas parcelas cujos proprietários entenderam aceitar o preço oferecido pela Câmara, numa atitude de colaboração, com vistas a um benefício que a todos parecia de importância capital para o progresso das respectivas localidades e do concelho em geral.
Entretanto entendeu-se que a aplicação de fundos para o avanço das diversas obras a concretizar necessitava de estudos elaborados por equipas competentes e durante meses trabalhou-se no PECA - Plano estratégico do concelho de Alcanena, que foi publicado em 1997
Mais tarde entendeu-se que este estudo não era suficiente e tratou-se de mandar elaborar outro, cujo conteúdo é tão útil como o que antes fora elaborado. E, entre estudos e planos estratégicos, os anos foram passando sem que nada de concreto aparecesse no domínio das ditas Zonas Industriais.
Os processos de expropriação arrastaram-se indefinidamente, fez-se passar a ideia de que talvez as Zonas Industriais já venham fora de tempo depois que as indústrias principais do concelho sofreram um duro revés, atingidas pelo avanço da globalização, pelas políticas de defesa do ambiente, e pelas normas de um PDM que impossibilitou o seu desenvolvimento nas áreas onde estavam implantadas, contando que soluções viáveis estariam disponíveis a curto prazo
Passados dez anos, quando se fala na elaboração de um novo PDM, ou na correcção do que existe, é triste pensar que, nesta matéria, do PDM que se encontra ainda em vigor nada mais se aproveitou senão as restrições que ele mesmo impunha. Dos estudos mandados elaborar e pagos pela autarquia restam resmas de papel algures arrecadadas à espera de melhores dias. Investimentos vultosos como esses mesmos estudos, as Nascentes do Alviela, a Festamb, o pavilhão multiusos consumiram (consomem) rios de dinheiro, sem contrapartida que se veja, e a iniciativa privada baixou para níveis que ninguém podia imaginar há vinte anos atrás.
Nos nossos dias, gente nova e menos nova já assegurou o seu posto de trabalho nos concelhos vizinhos, Torres Novas, Ourém, Tomar, Leiria, e até Lisboa. Por enquanto aqui dormem os seus filhos e frequentam a escola, mas não tardará que o peso das raízes, um lugar sossegado e uma bonita paisagem para usufruir nos fins-de-semana deixem de contar perante a vantagem de viver perto do local de trabalho. A desertificação tem sido um fenómeno de que ouvimos falar lá para as zonas mais no interior, mas já está a processar-se entre nós, e os seus efeitos serão cruciais nos próximos tempos.
Entretanto, ao nosso lado, outros concelhos progridem a olhos vistos - Torres Novas, Ourém, Rio Maior são exemplo disso, para só referirmos os que se situam no nosso distrito. O carácter de ruralidade de alguns deles, há vinte anos atrás, contrastava abertamente com o índice de industrialização do concelho de Alcanena.
Verdadeiras zonas industriais estão a surgir sem planeamento a seguir às fronteiras do nosso concelho, como acontece na zona da Videla, à sombra do cruzamento da A1 com a A23
... e no planalto da Serra de Aire, a seguir à área de repouso da A1, paredes meias com o Vale Alto.
Placas a anunciar postos de trabalho na área da construção civil, pavilhões que se erguem e vão albergar indústrias, derramas que se adivinham e que irão proporcionar aos respectivos concelhos fundos para prosseguirem outros objectivos.
Em boa verdade, como sempre afirmou a sabedoria popular,
"Quem, não semeia não colhe"!
Daniel Bessa
O conhecido economista esteve recentemente em Mira de Aire onde participou na 1a reunião descentralizada da Assembleia Municipal de Porto de Mós.
Disse ele nessa altura que a grande competitividade do concelho está na proximidade de um dos poios mais dinâmicos de desenvolvimento do país - o eixo Leiria-Marinha Grande.
Sobre Mira de Aire, a proximidade do nó da A1 em Torres Novas é um grande atractivo, já que a indústria têxtiil está condenada a perder mercado, (/n Região de Leiria 29/09/06)
...Só que, para tirar dividendos desta situação, é preciso conquistar interesses, e isso não se faz optando por elevadas taxas da Derrama e do Imposto Municipal sobre Imóveis - IML Por isso, no concelho de Porto de Mós optou-se pela Taxa O na Derrama e por baixar a taxa do IMI de 0,3 para 0,2%.
É que, há muito quem queira mamar na teta, não há é quem dê palha à vaca.»
A. Nogueira, in Jornal de Minde (30 Set)
NOTA: As ilustrações não são de responsabilidade do autor
1 comentário:
Como sempre, o Sr Agostinho Nogueira habituou-nos a leituras muitos lúcidas sobre os assuntos que expôe.
Os autarcas têm uma cota parte muito importante no desenvolvimento das regiões.
Sem acusar ninguém (cada um que faça o seu juízo) o certo é que é necessário dar a volta ao texto. A continuar assim, podemos estar certos de que Minde ainda baixará muito no número de habitantes.
Não há condições...
Enviar um comentário