
Se Justino Guedes sonhasse que a construção de sua casa de campo iria ser motivo de tanta história, certamente teria pensado duas vezes. Contudo, julgo que seria esse o seu objectivo. Uma casa só entra para a história quando merece ter histórias. E a Casa Açores merece ter histórias. Em boa hora o irmão do Mestre Roque Gameiro a mandou construir. Hoje é património local.

Foi casa de férias da família durante muitos anos. Imagino os bons momentos que filhos e netos devem ter passado naqueles belos jardins. Frondosos, bem tratados e cheios de mistérios, eram o sonho de todos os que passávamos do lado de cá do muro.

Excelente decisão. Uma medida correcta e de aplaudir.
Disseram-me que custou 45 mil contos. Bom negócio. O património em causa vale esse valor.
Também ouvi dizer que o provável destino era colocar a Casa Açores ao serviço da cultura através do CAORG. Excelente ideia. O local ideal.
Após demolirem as escolas e com a entrada em cena do terreno das Eiras, as vontades ganham novos horizontes e tudo se começa a complicar e indefinir. Ninguém sabe nada. Dois espaços nobres com uma área considerável na zona central de Minde, e não existem quaisquer planos conhecidos da população.

As infiltrações eram muitas e o telhado ameaçava ruir, o que impeliu a CM Alcanena a proceder a uma substituição completa da cobertura. A obra foi adjudicada por 125 mil euros (25 mil contos) à Construtora do Lena. Queixam-se alguns prestigiados empreiteiros em Minde que a obra não teve concurso, nem foram convidados a dar orçamento («para uma obra na terra»).
Este telhado, custou a exorbitante fortuna de mais de 150 “contos” por M2, e mesmo assim o orçamento não deu sequer para “dar um arranjo” no pequeno beirado sobre o portão de entrada. Orçamentos curtos. Porca miséria.
A chaminé exterior, com o reboco caído e os cunhais de pedra desacompanhados, ameaça ruir, mas ninguém se preocupou em gastar uma saca de cimento para consolidar a situação. No contrato não constava e o orçamento não dava para mais.
O certo é que o telhado está lá, assim como o cartaz que assinala a obra.

E Agora ?
Para que possa haver algum benefício e retorno de um investimento que já foi iniciado à meia dúzia de anos, é necessário que comece a ter alguma utilidade. Os exteriores precisam de ser restaurados e os interiores completamente remodelados, incluindo infra-estruturas. Não sai barato, e se olharmos só para o custo que a CMA pagou pelo telhado, imaginemos a “conta”.
E os Jardins? E o restauro do Torreão? E os anexos? E as ampliações? E a ecologia? Oh, oh! Tá aqui obra.

A maior vantagem é que conseguem pôr no congelador o dossier Casa Açores. Esse “berbicacho” ficará para quem vier depois.
Mais contentes, ficaram, esses mesmos autarcas, quando surgiram as diversas correntes de opinião sobre o assunto. Enquanto não se encontrar uma solução mais consensual, não terão de mexer uma única palha. «O pau vai e vem, mas folgam as costas».
Pelos vistos, a política do silêncio, da indefinição e do secretismo começa a dar frutos aos seus progenitores. Os anos passam e nós cá vamos indo…

Mas o assunto era a Casa Açores. Que destino?
Pelo seguimento que as coisas estão a levar, não lhe prevejo um destino muito risonho a curto ou médio prazo. Não há ideias, um plano, nada! Os custos são elevados, e não há vontade política em executar uma obra sem grande visibilidade

Não me indigna nada a ideia do espaço Açores ser concebido de modo a preservar a identidade das construções e jardins existentes, e a funcionar como um Centro Cultural. Uma “Gulbenkien” à dimensão regional. Só um projecto deste género poderá viabilizar uma utilização justificativa dos investimentos realizados e futuros. Um concurso de ideias poderia ser interessante.
A viabibilade de qualquer solução passará sempre por uma estratégia de autonomia e auto-sustentação económica do espaço. Caso contrário, a Casa Açores irá ser sempre um enorme Elefante Branco.
PM
