24 julho, 2008

Curiosidades Históricas no Portomozense



CURIOSIDADES HISTORICAS - CISTERNA DA MIRA

« Quem fôr de Minde para a Mira, Matta acima, perto d'esta freguezia, á beira da estrada, lado d'Este, verá um grande depósito d'água potável que abastecia e abastece ainda os povos das duas povoações; antes porém de falarmos d'este grande depósito, permittam-nos os leitores que abramos aqui o seguinte parenthese:
Nos princípios do seculo •17 o logar de Minde servia-se das aguas das chuva depositadas nos - poço da poça, que existiu ao fundo da Costa na propriedade de António Manha, do poço tanque, do poço alto, do poço do Oiteiro e do poço velho, que desapareceram.
O poço velho parece datar do tempo dos moíros; e segundo a tradicção suas aguas eram dotadas de encantamento, porque, diziam, aquelle que d'ellas bebesse jamais abandonava a povoação: ainda hoje a qualquer pessoa que visita a terra e n'ella se demora, diz a povo: bebeu agua do poço velho.
Minde presentemente possue mais de 70 cisternas particulares e um bom deposito nas Lageiras, proximo da estrada real; (*) insuficienfe ainda para gasto da povoação.

Fechado o parenthese, deitemos os olhos para a Cisterna da Mira.
Corria o anno de 1512, em Minde vivia um cidadão que toda a sua vida tivera o mister de encher copos: aos 75 annos a mórte bate-lhe na porta, o homem manda chamar o parocho e diz-lhe que o que mais pezo lhe fazia na consciencia era a muita agua do poço velho que por vinho impingira a seus freguezes.
O levita aconselha-o a que, visto poder, desponha de fundos para um deposito d'agua que leve, pouco mais ou menos a que elle consumiu.
Recommendou o bom velho ao exalar o ultimo suspiro, aos filhos o cumprimento d' esta sua ultima vontade; mas a familia que tambem uzava do mesmo processo, fez ouvidos de mercador; e na escola do pae aprenderam filhos, netos e bisnetos.
O honrado cidadão e capitão do exercito Manuel Cansado, e que pertencia aos ultimos, vindo descansar no seu berço natal das fadigas da guerra com Castella, lembrando-se de satisfazer a divida que desde seu bisavô se achava por solver, mandou construir o grande deposito que na estação das chuvas um regato vae encher.

A Cisterna da Mira, assim denominada por ficar proxima d'este logar, que n'essa epocha fazia parte da freguezia de Minde, hoje em ruinas era uma boa obra para onde se descia por tres ordens de escadas, das quaes uma olha para o nórte, outra para o sul e a outra para o nascente.
Como em Minde não existam Manoeis Cansados, e os ricos tenham agua em suas cisternas e os pobres não tenham forças, a cisterna da Mira, a não haverem braços que a amparem, em poucos annos desaparecerá como desapareceram os poços de que acima falámos.
Tudo se vae atraz de quem o deixa.

(*) Este deposito, seja dito de passagem, deve-o Minde á actividade do benemerito cidadão Augusto Faustino dos Santos Crespo, de Porto de Moz. Ouviram?... »

A. de Jesus e Silva (16-01-1901)



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