Correspondências no "O Portomozense"

Já no ínicio do século passado, "O Portomozense" era um jornal semanal e de grande populariedade. A par do nacional e diário "O Século" eram os meios de informação mais difundidos na região. Ambos tinham correspondentes em Minde.

Minde, que acabava de se transferir do concelho de Porto de Mós para Torres Novas, era dotado de personagens bastante interessantes e com muita participação nos escritos semanais do "O Portomozense". Alguns desses artigos, de grande bate-papo e réplica, não eram mais nem menos, do que, passados cem anos, o mesmo que se verifica agora nos blogs. São autênticos tratados históricos, como é o caso desta carta do Alcaria, vulgo, Sacristão nº 2.

Minde, 4-8-903
Ha oito dias que teem saido com destino ao Alemtejo mais de 2ooo fardos de fazendas das fabricas d'aqui e Mira; é amanhã que começam a sair todos os negociantes com o destino ás importantes feiras do nosso fértil Alemtejo; todos estes incansáveis trabalhadores se demoram o mínimo 2 mezes, outros só voltam para os Santos e outros depois; é calculada a fazenda que já foi despachada e está enfardada para partir, em 20 contos de réis pouco mais ou menos.

Temos extranhado bastante que nenhum dos nossos conterrâneos, nada tenha dito do que se tem passado n'estes últimos dias, sobre umas infames calumnias de dois ou três desgraçados que á falta de importância, e de verem que nunca poderão chegar a ser úteis a ninguém, tentaram babujar as botas do nosso pátrio e amigo Justino Guedes e de todos os seus devotados amigos que estão acima de todos os latidos; trataremos d'isso em successivas correspondências se o nosso presado director nos permittir, visto que fui dispensado de cantar na egreja e de ajudar aos actos religiosos pelo parocho d'esta freguezia, pelo facto de algumas vezes ter entrado no móta, a mais, e por intrigas do meu collega n.° 1, vou tratar de me entreter rabiscando no «Portomozense »
Alcaria, vulgo (Sacristão nº 2.)